sábado, 1 de maio de 2021

MAIAS

Não há como nós!

Como não há como nós?

Há milhentos como nós, para o bem, para o mal e para o assim-assim!    Simplesmente cada um se sente mais senhor de um “nós” razoavelmente cristalino. Tão próximo que não há como ver qualquer sujidade ou imperfeição. E então, quando teima em distanciar-se estrategicamente do “eles”, adquire tal contraste que, de certeza, foi lavado com um tal detergente de outra moda.

Mas o nós tem sempre história e razão. E acho que foi esse, tão escondido nos idos, bem antes de qualquer memória, e que não permite qualquer direito a exercícios de saudade, que se me aflorou como marca de raiz.

É que memórias não são coisa de raiz. Têm-se como caules ou como folhas, e respiram-se! E saudades é outra coisa.

Visitei a raiz, não visitei a terra, que essa anda um quanto, entre “nós” e “eles”, sem que que o “vós” seja chamado à voz.

Mas, regressemos à visita que me fez vibrar neste dia e que vos conto em aroma, gosto e paladar, simplesmente. E assim cozi, assei e foram logo os aromas que me fizeram viajar para lá do tempo, para as estórias. E depois, os paladares levaram-me a memórias e a palavras de outros tempos e… maias.

Se também as roí?

Claro! Não fosse, sabe-se lá, cumprir-se o infortúnio que a tradição determina!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Memórias de paladar


Um destes dias, numa das lojas onde nos são impingidos marcas, modelos e conceitos estrangeiros, foi-me dado a provar um vinho quente, muito típico, como bebida de inverno, na Suécia.
Provei. Provei com agrado, que o líquido quente, suavemente alcoólico e doce é bem agradável.
Contudo, logo abri aspas à designação “vinho” e imediatamente encontrei, na história das minhas papilas, uma vincada memória de paladares parecidos.
Apurei que a bebida tão característica do inverno sueco é um vinho de fermentação interrompida sem elevação de teor ou uma mistura de vinho e sumo de uva, que a tradição vinícola (de reconhecida excelência) se prepara para difundir no mercado nacional (tão ligado aos brilhantes exemplos do norte da Europa) e fazer vingar por cá esta tradição Oh!... Oh!... Oh!... tão genuinamente lusa como Oh!... Oh!... Oh!...
E busquei, na memória, quando, onde e como é que aquele paladar se terá marcado anteriormente em mim.
Associei e reconheci:
- VINHO QUENTE COM MEL.
Algures no passado de menino e moço transmontano, a tradição do meu povo me deu a conhecer o paladar que agora vinha a reencontrar com a marca tão certificadamente nórdica.
Segurei-me, fechei-me em copas (Como em jogo de “Sueca”?) e na primeira oportunidade, Noite de Natal, aqueci vinho (português e do bom) com mel da Serra de Montesinho (tão bom como o vinho, que eu não brinco em serviço) e dei a provar aos companheiros de ceia e noitada.
Sucesso estrondoso, com direito a aplauso e vivas, repetição e bis até a razão impor a moderação.
E a memória?
Essa…, a memória, foi meu pai que a recolocou no seu devido contexto, falando de que antigamente, em dias de matança do porco, se aqueciam assim as tripas e as almas de quem, com mãos geladas, regressava da ribeira com as ditas (do morto) lavadas.

A memória das papilas repôs-se e tudo combina.
Combina a tal mistela dos suecos com o frio da Suécia, mas combina comigo o paladar quente e doce de mel de urze e carqueja diluído no travo de bom maduro tinto, aquecido em púcaro de barro, nas brasas de uma lareira transmontana.
   
INCOMPARÁVEL.
Quanto vale a memória de um povo?

domingo, 4 de novembro de 2012

Memória

Avelanoso, 4 de novembro de 2012

Há lugares reservados às memorias mais profundas.
Uma fogaça acabada de cozer, ou melhor... a bola que minha avó Glória cozia de propósito para os netos e ainda quente era adoçada em sopas-de-burro-cansado...

A essas memórias acedi hoje à tarde enquanto, à boca do forno, o lume ara outro.
E como em dia de hoje, se faz viva a história!
E como em dia de hoje, apenas se tempera de modernidade a prática ancestral e se está fora de tempo por instantes, por memória, por vida.

Essas e outras... pois das memórias temperadas de aroma de forno quente em tarde fria saí a espaços para outro lugares e outras histórias em tardes chuvosas e lume cuidado sob o pote de aguardente...
... e de castanhas mordidas e pousadas sobre as brasas
... e da velha caneca de barro vidrado vinda sabe-se-lá-de-onde, mordida pelo tempo e o copo da prova (esse impecável) pousados numa cadeira de madeira que já tinha conhecido melhores dias...

... Memórias! Se não as houvesse seriamos gente sem identidade e sem história.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Entre quem é!


Num destes dias publiquei no mural de um grupo do Facebook, com o nome “Portas do Mundo”, uma fotografia que fiz acompanhar dos seguintes dizeres: “Neste lugar costuma dizer-se: - Entre quem é!” e acrescento o lugar onde a fotografia foi tirada “Avelanoso (Vimioso)”, acrescentando “mas poderia ser em qualquer aldeia do Nordeste Transmontano”.
Usei a expressão "Entre quem é!" e não "Entre! Quem é?" por considerar que tradicionalmente seria esse mesmo o sentido "Entre, independentemente de quem seja".
Não é a primeira foto que publico nesse lugar de portas, não é a primeira foto de Avelanoso que coloco à disposição do mundo, contudo esta, particularmente, acrescentou gozo ao gozo habitual e neste prazer misturou-se algum particular orgulho.

Não foi a qualidade da foto nem o comentário que encontrei para a ilustrar que foram a base dessa satisfação, mas sobretudo a leitura determinada pela chave pendurada no postigo aberto.

Esta porta não é de casa abandonada!
Não foram os dias desprezo que determinaram a abertura do postigo. 
A casa é antiga e provavelmente não é habitação, contudo esta porta é de uso e determina, tão só, que ainda hoje, em Avelanoso, uma porta ainda é o lugar por onde se passa e não o obstáculo que impede a entrada.

sábado, 3 de setembro de 2011

Pauliteir(a)s

Avelanoso, 2011


Gostei muito de ver.

Não é nada habitual e aparece mesmo em dissonância com a tradição e a origem da dança.
Poderia aqui tecer grandes considerações sobre o a dança dos pauliteiros e esta versão em feminino mas não discuto nada a respeito de pretensas (ou não) genuinidades, nem entro em divagações sobre o que não domino para apenas me comprometer com a apreciação do momento.
Gostei!
Gostei até de sorrir com o que "maliciosamente" me atravessou a ideia.

Afinal, nunca me havia visto a apreciar assim a "graciosidade" um "pauliteiro"!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Trilho de contrabando - 18 de Agosto

Pôr do sol em Avelanoso, 18-08-2011


Desta vez o trilho fez-se de Alcañices a Avelanoso. De noite, pela serra e, uma vez mais, foi um prazer fazer este caminho de contrabando e por ele tocar em leve agruras de outros tempos e outras gentes merecedoras de memória.
Conheço, de menino, algumas histórias ditas em surdina ou contadas em galhofa, de acordo com a circunstância, com o tempo, com os intervenientes … e soam-me, no ouvido, palavras não ditas nem escutadas, trocadas por outras que chegavam completamente para que todos se entendessem.
Lembro alcunhas … Lembro o meu Avô Pimentel. Lembro livros de assento e o cheiro da camioneta com a “Palmeira”no toldo de cinzento velho.
Lembro a “Tia Aurora”.
Vinte quilos de café, dentro de um saco de, apenas equipado com umas alças de modelo expedito e ocasional, seria obra! Um xaile atado à cintura acomodava a carga de quem, mais esclarecido, cuidava de acomodar o peso entre os ombros e as ancas.
Muito para cima de vinte quilómetros, por caminhos de incerto, de acordo com a fama dos “fiscais”, a adivinhação dos carabineiros, algumas rezas… e sorte, compunham a noite do fardo, acabada na seguinte, que só se fazia um pouco mais fácil por as pesetas serem mais leves que o café.
Houve filhos e netos que se calçaram no dia seguinte. E comeram… um mimo cansado e recortado no meio da “torta”.
Sorte era ter comprador fixo em povo perto! Sorte era adivinhar a “ronda”! Sorte era um acoito oportuno. O resto era suor.
Voltemos ao trilho da noite do dia 18. Onze quilómetros em ritmo de despreocupação e riso, de conversas e silêncios ocasionais afirmados sobre o esforço, podem parecer difíceis para corpos menos habituados à marcha, mas muito pouco parecidos com o passado lembrado. Ainda mais quando o passeio parece um entremeio que liga “galletas” à “jardineira” mais lusa.
Os puristas reviram os olhos! Contrabandistas dirão que falta perigo. Caminheiros, que falta ritmo.
Como sou essencialmente um passeador, há coisas que para mim tomam proporções diferentes. E faz todo o sentido que perceba o caminho mais que a noite, que conheça mais que sinta. E que veja! O caminho, a vereda, o vale, a “marra”… a serra!
Se veja!
Um destes dias vou pelo “luz-que-fusque”, para ver o pó e a pedra que piso, para ver o ar à minha volta e recriar na minha mente, esclarecidamente, os “caminhos” que outrora os contrabandistas terão percorrido.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Humor


Ali mesmo, na aproximação do largo do tanque, parei o carro, abri a janela e perguntei a quem me saudava:
– Avelanoso é aqui?
“Ui!, ainda está muito longe!” – Foi a resposta imediata e logo seguida de maior esclarecimento:
– Segue esta estrada, sempre em frente, até passar a ponte do rio. Continua na mesma estrada e vai atravessar Garabitos e S. João da Lua. Avelanoso é a terceira aldeia.

Quando, na vida, se encontra lugar para um gracejo e um riso, para a atenção bem humorada … então VIVER é bem mais agradável.
Fica aqui minha homenagem a quem, de um momento para o outro, sabe criar uma graça ou uma história que dispõe tão bem que apetece acreditar.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dia de Reis.

Em cada ano, neste dia e um pouco por todas as escolas por onde me tenho encontrado, professores e alunos abrem os portões e percorrem caminhos e ruas das proximidades cantando… as janeiras dos Zeca!
Não é que não tenha já ouvido outras cantigas! Algumas com letras muito bem construídas por professores, sobre musicas adaptáveis à quadra.
Mas eu…
Invariavelmente …
Sigo o Zeca por “… esses quintais a dentro…” com mágoa!
Mágoa do cantar do Zeca? Não!!!!
Mágoa de não me lembrar das quadras e da música que ouvia e cantava em menino nos dois ou três anos que me foi possível passar o Dia de Reis em Avelanoso.
Os Dias de Reis que vivi noutras terras nunca tiveram o mesmo sabor.
Nunca souberam a frio e fumo!
E os anos…
Abafaram-me o som da melodia…
Sacaram-me as palavras…
Mas mantiveram a memória da noite das cozinhas em brasa, das portas abertas aos “romeiros de longe”.

Um destes dias, lembro-me do resto!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Por rotas de contrabando

Faz hoje oito dias, estava a chegar a Alcanices, por caminhos de contrabando, em passeio nocturno e na companhia de perto de cem pessoas, de duas nacionalidades (pelo menos).

Evento interessantíssimo mas não livre de reparos.

Que pena …
Este passeio não surgir organizado por iniciativa local.
Existindo em Avelanoso um Grupo Cultural e Recreativo, cumpriria a este, ser voz viva da cultura da terra e da memória das gentes mais velhas recuperar, para conhecimento dos mais novos, tradições, saberes e factos que se perderão no tempo e na nova urbanidade.

Que pena…
Dada a inoperância e o descomprometimento com qualquer actividade desportiva ou cultural, por parte do GCR de Avelanoso, não serem as comissões de festas, que tão criativas tem que ser na mobilização da população para os custos de actividades cada vez mais caras, a incentivar a reunião e o convívio ente vizinhos por meios culturalmente interessantes.

Que pena...
Não terá sido particularmente bem escolhido o dia para a promoção desta actividade pela Câmara municipal de Vimioso, ou, pelo menos com o conhecimento desta.
Ao que parece, a organização não terá percebido que, que coincidente com a festa da aldeia, este passeio retiraria pessoas da festa, ao contrário de as conduzir a tal.
Bastaria que o percurso se desenrolasse em sentido inverso e a Câmara Municipal de Vimioso estaria a contribuir para que as festas de Verão de uma das SUAS freguesias pudesse contar com mais um elemento de animação, interessante e útil.

Que pena...
Que a organização da caminhada não tivesse pensado que o evento jamais se ficaria por ser uma “caminhada nocturna” e seria sempre um reavivar de histórias que valeria a pena ouvir e um reconhecimento de percursos que valeria a pena ver!
E seria tão fácil. Se tivesse sido cumprido o horário previsto (saída pelas vinte horas e algo), a parte magnífica do percurso, que é chegada à serra, com a visão sobre Avelanoso e outros percursos alternativos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Camilo



Hoje realizou-se mais um encontro dos de Avelanoso.
Não estive.
Com pena, sem dúvida! Mas a partir do momento que abandonei a residência em Bragança que outras questões se colocam para esta participação.
Primeiramente, a distância! Especialmente quando associada e limitações temporais.
Com trabalho, ontem e amanhã, seria um pouco pesada a deslocação.
Assim e desta vez, obriguei-me a prescindir do convívio com os da minha terra para aproveitar uma interessante oferta da terra dos outros.

Uma visitação aos caminhos de Camilo.
Francamente interessante!
Quase acompanhado pelo mesmo, saí da estação dos comboios e segui, caminhando e conversando com este e aquele, até Seide.
Magnífico passeio. Fiquei cliente de novos acontecimento do tipo.
Perdoem-me os conterrâneos!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Convívio 2008

Quando em 2000 me lembrei que “os de Avelanoso”, residentes em Bragança, poderiam encontrar-se num dia de convívio, não poderia ter dado com melhor gente.
No mesmo dia em que falei com o “Zé Cabreirico” e lhe transmiti o meu pensar, logo o vi fervilhar de ideias e passados alguns dias (ainda eu não me sentia completamente poisado, na minha própria ideia) já ele me apareceu com os primeiros (bastantes) nomes de uma lista de pessoas a contactar.
Daí, a organizar a dita, e a transformá-la numa lista de contactos, foi um ápice. E depois de contratarmos o “Zé Branco” e o Rogério Lucas, para compor uma equipa de operacionais, a ideia estava no terreno.
No terreno de Cova de Lua, diga-se, ali mesmo, na casa dos serviços florestais, com boa água (temos ideia!), bom vinho (temos certeza, pelos reparos!), boas sardinhas e boa vitela (cer-te-zi-nha!), em brasa viva.
Era 24 de Junho e a Selecção Nacional de Futebol vencia, no Arena de Amesterdão, a Turquia, por 2-0, nos quartos-de-final do Euro 2000.
Tudo em grande. Super dia!
A organização saiu com a vaidade de sentir ter conquistado “clientes” para novos convívios e no sonho foi ficando a ideia de encontros de Diáspora!
Para já… a realidade é a de que todos os anos, a partir dessa data, há gente de Avelanoso que se junta para conviver saudavelmente em torno de memórias e risos, de petiscos e graças, de encontros e promessas.
Este ano… aí está!
Novo encontro, desta vez em Varge (com tudo o que faz falta) no dia dez de Junho. E a coisa promete.

A Ementa:

Entradas
Presunto
Chouriço
Queijo
Almoço
Javali com batatas cozidas
Sardinhas assadas
Sobremesas
Café
Digestivos
Jantar
Caldo Verde
Trutas de escabeche
Entremeada/entrecosto
Sobremesas
Café
Não falharemos, não!

domingo, 4 de maio de 2008

Avelanoso

Em Avelanoso seriam de supor avelãs com fartura e qualidade.
E onde? – Pergunta o visitante.
Não há – Responde o local. – Mas outras “cousas ai”. gente, bô áuga, caça e umas frescas que não são de desprezar.
Regada da ribeira que nasce em Espanha e se liga ao rio Angueira, forçada a uma agricultura de poucos recursos, por terras de xisto e um clima agreste, a aldeia de Avelanoso muito cedo se viu condenada a perder os seus.
Ficam “os velhos” que os “novos” se vão. – Mas sempre com o sonho de voltar uma vez no Verão... e no fim, para reencontrar a paz, longe do burburinho e perto dos seus.
Neste reencontro, a essência da “Festa do Padroeiro”, outrora substancialmente mais relacionada com as colheitas e o agradecimento pela fartura de Fim de Verão.
De Portugal, da Europa e do Mundo regressa a gente que pode e vive os dias de forma intensa, até nova abalada.
E fica a aldeia abandonada a cansados resistentes, não partidos ou regressados, que mantêm a aldeia em vida até ao próximo regresso dos ausentes.

Avelanoso, Agosto de 2002

sábado, 5 de janeiro de 2008

"BALHURIGO"


Avelanoso, Dezembro de 2007

Na opinião de um amigo, o nome deste meu Blog deveria ser [Terras de Balhurigo].
Reconheço a pertinência do reparo.
Desta forma, seria dado relevo à pronúncia local.

No entanto, uma vez cometido o nome e desta forma assim escrito, “Terras de Valhorigo” assim o mantenho permanente, por me parecer que o crime não é de lesa-majestade.
De facto, eu sempre disse valhorigo e considero que, como falante de um Português padrão, não tenho que alterar a minha própria pronúncia, no sentido de me acordar com as minhas raízes.

Elas ultrapassam a breve forma de dizer ou de escrever, para se enraizarem, mais profundamente, num contexto cultural muito mais vasto e rico.

Das histórias que o meu povo conta, faz eco a minha alma.

Das tradições que vivi, conheci e ouvi, sinto o paladar e aromas. Ainda o chiar dos carros de [acarreija] se insinua em meus ouvidos, assim como o pregão de “quem vende a pele da coelha?” que ouvi em tempos bem mais frios.

Sinto a ribeira e o termo.

Mas, sobretudo, sinto o povo e sua alma, independentemente de dizer Avelanoso ou [Ablanoso] para que sempre se escreva AVELANOSO.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Temos orgulho nos nossos.




Nos de ontem, nos de hoje e nos de sempre.
Nos que nascem e nos que duram.
Nos que perduram

Nos que vencem
Nos que a vida vence
Nos que saem e nos que ficam
Em nós, nos outros, em todos.

Nos amigos!

Nos que não sendo…
Nos conhecem,
Nos respeitam,
Nos tomam como pares.

Em todos que são nossos
E os temos connosco…
Quando dizemos seu nome.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Verão de S. Martinho

(ao jeito de colóquio popular transmontano)


Num Outono que parecia
Mais Inverno começado,
Um caminho percorria
Sozinho, certo soldado.

Era um cavaleiro valente
Das tropas de Roma, senhor,
Que na França combatiam
Por mando do imperador.

Regressava ao seu posto
Depois de ter visitado
E visto com os seus olhos
O que tinha conquistado.

Seu nome era Martinho
E é aqui recordado
Porque naquele caminho
Viu seu destino mudado.

D’entre sombras e arvoredo
Uma figura se levanta,
Qu’interrompe o seu caminho
E que o seu cavalo espanta.

Era um homem quase nu
Que, tiritando, tombava
No chão gelado e cru
Onde o cavalo pisava.

Apeou-se o cavaleiro
Com estranha ligeireza
Pegou na mão que tremia
De frio e de fraqueza.

Em silêncio, o pedinte
Apenas levanta o olhar
O cavaleiro ergue a espada
E com ela rasga o ar.

O ar… e a sua capa
Que, num gesto retirava
E agora, cortada a meio
Ao mendigo a entregava.

Mal o mendigo se cobriu
Com a capa do soldado
O céu cinzento se abriu
Ficou o sol revelado.

O frio desapareceu
Já não parecia Inverno
O mendigo agradeceu
Com agradecimento eterno.

Tão eterno que ainda hoje
Se vê com satisfação
Que antes de começar o Inverno
Há sempre uns dias de Verão

Jorge Pimentel

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

GCR

Todas as actividades relacionadas com cultura, desporto e lazer cabem mum qualquer plano de actividades do Grupo Cultural e Recreativo de Avelanoso.

Exista este...

E, já agora, algumas actividades que mantenham a vida de uma colectividade que, tendo nascido do coração, vontade e juventude de uns quantos, a eles torne a motivar.

Joguem à bola, pelo menos!


Bolas!!!

O emblema do Crupo Cultural e Recreativo de Avelanoso foi criado por Jorge Luis Fernandes Pimentel em 1979 e pintado na parede de sede da associação pelo autor, em Julho de 1983.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

de-méritos

A comissão de festas de Avelanoso, formada pelas mordomias de Nossa Senhora da Saúde e de S. Barnabé, promoveu, este Verão, um torneio de futebol de salão, no polidesportivo da aldeia.

Mérito.
Sim senhor. Mérito à comissão.
Mérito por aproveitar, de tão boa forma, os espaços que hoje estão à disposição das organizações e da população.
Mérito por manter, ao longo de quase uma semana, um ambiente festivo e dinâmico.

Mas demérito.
Reafirmo, MUITO DEMÉRITO.

Muito demérito ao Grupo Cultural e Recreativo de Avelanoso – GCR que, para além de não ter realizado este evento, se associou, por omissão, a uma das equipas participantes, que, penso, não representou, nem esperava representar, a colectividade.
Muito demérito por não ter realizado nenhum outro, nem este ano, nem nos anteriores, desaproveitando as estruturas existentes e manchando o seu nome, estatutos e RAZÃO.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Brinquedo de infância

Tendo um carrinho de linhas
Até as linhas dispensava.
Um brinquedo muito lindo
Fazia sem custar nada.

Um elástico, um palito e sabão
Era tudo quanto queria.
Daria corda ao elástico
E o carrinho corria.

Corria pelo caminho
Que, no chão, eu desenhasse.
Pararia o carrinho
Quando a corda acabasse.

Tudo começava outra vez
Zac, zac, mais cordinha.
Com o dedo no palito
P’ra dar mais uma voltinha.

Jorge Pimentel

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Avelanoso

São macias as colinas do lugar
Que se alongam entre urretas e breias.
Lá ao longe, neves frias dão ao ar
O poder de gelar a pele e as veias.

De Espanha, nem bom vento...
Diz o povo, no ditado.
Mas os ventos da Sanábria
Que gelam montes e fontes,
Dão, por vezes, casamento...
Contrariando o seu fado.

Abriram a esperança
À demanda de outro pão
E o povo buscou lá longe,
Em terras de outras gentes
O que seu gelado chão
Lhe negou, para sustento.

Mas a serra que o afasta,
Guarda os vales onde ri,
Quando, cansado, regressa
Aos seus, à terra e a si.